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domingo, 29 de agosto de 2010

VIDAS SECAS




Meus queridos leitores, esse marcador “Crítica Literária” é um novo espaço que criei para repassar o pouco que sei e expor minha opinião a respeito de livros que li ou estou lendo, Livros que de alguma maneira incitaram minha visão crítica. Porém, quero deixar claro que para mim verdade absoluta somente Deus e sua escritura sagrada. Por tanto, sintam-se livres para concordar ou discordar das palavras aqui expressas. O primeiro da vez será Vidas Secas. Eu o li a (aproximadamente) dois anos atrás. Teria lido antes se não tivesse assistido ao filme primeiro, (fato que me levou a acreditar no caráter monótono do livro). No entanto, lendo descobrimos que trata-se de uma obra enriquecedora no que diz respeito a conhecimento e percepção humana.

Vidas Secas é um romance de Graciliano Ramos, notadamente nordestino, ou seja, regional. Seu discurso é indireto livre ( próprio da prosa moderna), com foco na terceira pessoa. Nele há a influencia do realismo-naturalismo, do determinismo geográfico e do contexto histórico no qual foi escrito. Eu diria que este é um livro de denuncia social, por revelar sem romantismo ou rodeios as dificuldades de quem vive no Nordeste brasileiro: As condições de miséria e peregrinação que a seca impõe aos nordestinos, deixando-os num continuo processo migratório. Trata das condições subumanas do trabalhador rural, bem como o analfabetismo.

Podemos perceber o realismo “Machadiano” na maneira onisciente que o narrador exprime os pensamentos e sentimentos dos personagens, expondo seu mundo interior. “Apesar do fracasso da empreitada, ele está satisfeito. Pensa na situação da família, errante, passando fome, quando da chegada àquela fazenda. Estavam bem agora _ _ . Fabiano se orgulha de vencer as dificuldades tal qual um bicho. Agora ele era um vaqueiro, apesar de não ter um lugar próprio para morar. A fazenda aparentemente abandonada tinha um dono, que logo aparecera e reclamara a posse do local. A solução foi ficar por ali mesmo, servindo ao patrão, tomando conta do local. Na verdade, era uma situação triste, típica de quem não tem nada e vive errante. Sentiu-se novamente um animal, agora com uma conotação negativa.”
A figura animalesca de Fabiano expõe o caráter naturalista da obra ( o homem como produto do meio), lembrando que o naturalismo é fortemente influenciado pelo determinismo de Friedrich Ratzel (1844-1904), e Segundo os defensores desta corrente: “As condições naturais ou climáticas determinam o comportamento do varão, interferindo na sua capacidade de progredir”. Ou seja, o fato de habitar numa terra seca torna o personagem seco tanto no “viver” quanto no “ser”. Se analisarmos detalhadamente perceberemos que as obras fundamentadas nesta corrente filosófica não oferecem perspectiva de mudança, liberdade ou transformação da condição social dos personagens.

Três outros aspectos que gostaria de pontuar são as questões da cadela, das crianças e Sinha Vitória. No livro, Baleia é totalmente personificada, tem sentimentos, capacidade de compreensão e próxima da morte até delira com abundância de comida. Em contrapartida, as crianças em momento algum são nomeadas pelo autor: O mesmo refere-se a eles como "menino mais velho e menino mais novo", logo, eles não têm identidade, nas estatísticas não passam de números e no futuro não poderão ser algo além do que seus pais: rudes, analfabetos e sem perspectiva de vida.

Finalmente, sinha Vitória: Não muito além de Fabiano, é um pouco mais evoluída; magoa-se com palavras, o que denota um sentimento próprio da sensibilidade feminina, faz contas e tem desejos de  melhora.  Sesgundo José Neto:"Sinha Vitória é um exemplo de resignação e esperança. Vive perdida em pensamentos que se confundem com o real e o imaginário, aceitando com paciência a realidade que lhe é imposta pela vida. Enquanto aguarda uma oportunidade de melhorar sua condição social, procura orientar seu marido, Fabiano, a fim de que ele não seja explorado, principalmente pelo proprietário da fazenda, sendo por isso, sua fonte de apoio, porém sem muito efeito, pois a necessidade fazia de Fabiano um homem subordinado e impotente diante da situação em que se encontra. O que a motivava era a fé em Deus e a vontade de conseguir a tão sonhada cama de lastro de couro, que representava para ela a possibilidade de ser gente “Não podiam dormir como gente”.

  Percebam que no trecho: “Nesse momento, depara-se com o soldado amarelo que o humilhara um ano atrás _ . O cruzar de olhos e o reconhecimento durou fração de segundos. O suficiente para que Fabiano esfolasse o inimigo. O soldado claramente tremia de medo. Também reconhecera o desafeto antigo e pressentia o perigo. Fabiano irritou-se com a cena. O outro era um nadica. Poderia matá-lo com as mãos, sem armas, se quisesse. A fragilidade do outro aos poucos foi aplacando a raiva de Fabiano. Ponderou que ele mesmo poderia ter evitado a noite na cadeia se não tivesse xingado a mãe do amarelo. No meio daquela paisagem isolada e hostil, só os dois, e se ele pedisse passagem ao soldado? Aproximou-se do outro pensando que já tinha sido mais valente, mais ousado. Na verdade, na fração de segundo interminável Fabiano ia descobrindo-se amedrontado. Se ele era um homem de bem, para que arruinar a sua vida matando uma autoridade? Guardaria forças para inimigo maior. Sentindo o inimigo acovardado, o soldado ganhou força. Avançou firme e perguntou o caminho. Fabiano tirou o chapéu numa reverência e ainda ensinou o caminho ao amarelo”. Fica a idéia de que apesar da ignorância e fraqueza econômica, a força bruta pertence ao povo subjugado, e ao utilizá-la vinga-se as humilhações impostas pela autoridade ( representada no soldado amarelo, o qual simboliza o governo de Getúlio Vargas), no entanto o medo de agir abri caminho para que seus opressores permaneçam vivos e intocados. É preciso não esquecer que assim como há uma explicação histórica para a "vocação agrária da economia brasileira", há também explicações política e econômica para a seca e toda miséria nordestina. Apesar do tempo no qual a obra foi produzida, o sertão permanece desprezado e a denuncia do autor é válida para a atualidade. Segundo José Neto em http://www.paratexto.com.br
“O Romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é uma obra através da qual é retratada a realidade de inúmeras pessoas, vítimas do descaso social e da exploração humana. A obra procura denunciar a injustiça praticada pelos que assumem o poder. O fiscal simboliza a extorção acometida aos pequenos comerciantes; o Soldado amarelo representa a corrupção policia, evidenciada na prisão arbitrária de Fabiano; O dono da fazenda abandonada é o símbolo do patrão injusto, desumano e medíocre, que suga os funcionários a todo momento, sem nenhum senso de solidariedade e respeito para com o ser humano. Fabiano e sua família são retrato de muitos retirantes que vivem sem nenhuma proteção e sem o reconhecimento de que também são seres humanos. Por isso. Pode-se dizer que Vidas Secas é uma obra que tenta sensibilizar o leitor para as causas sociais, utilizando como instrumento a palavra escrita. Ler Vidas Secas é conhecer um pouco do sertão nordestino e conviver com Fabiano e sua família, questionando o porquê de tanta injustiça social, pois na mesma situação, encontram-se muitos Fabianos e Sinhas Vitórias em busca do mínimo que um ser humano pode querer: que é viver”.

Um comentário:

  1. Paz!
    Olá, olha eu aqui!
    Seja bem vinda sempre!
    Deus te abençoe!
    Lindo blog!
    Beijos

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